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Ao celebrar 70 anos de fundação, a Hassmann se moderniza por meio de IA, indústria 4.0 e internacionalização

Entrevista com o Eng. Augusto Hassmann, gerente administrativo da Hassmann S.A., publicada na Revista do Parafuso, em maio de 2025.
Oficialmente, somente em outubro será realizada a celebração oficial dos 70 anos da Metalúrgica Hassmann S.A., na cidade de Imigrante (RS), localizada a 120 km de Porto Alegre. A aniversariante é uma das mais sólidas e robustas indústrias do Brasil no que se refere a parafusos, porcas e similares metálicos, itens conformados a frio e a quente, além da utilização de processos complementares, como usinagem.
Já entrevistado neste espaço, Augusto representa à 3ª geração de dirigentes da empresa, e já é pai, de um menino de nome Pedro. Sendo assim, podemos estar diante da próxima geração no comando da cia, digamos, no centenário? Veremos…
E qual Hassmann o Pedro encontrará? Como será a “Hassmann do futuro”?
É isso que buscamos nesta entrevista, saber como a 2ª e a 3ª geração estão conduzindo a viagem da empresa ao futuro, em segmento tão essencial, onde a modernidade ainda não indicou nada, nenhum um sinal, de ter algo capaz de substituir parafusos e similares.
Boa leitura!
No ano de 2024 quantas toneladas saíram das suas linhas de produção, e quantas pessoas trabalharam em média, no todo?
Em 2024 processamos 17.650 toneladas de aço em produtos diversos, como parafusos, porcas e peças especiais usinadas, segmento que vem crescendo dentro da Hassmann. No ano passado contávamos com uma média de 500 colaboradores mensalmente. Hoje são mais 510.
Pode nos dar um panorama da estrutura no geral que a empresa possui?
Nossa estrutura é muito verticalizada, executamos internamente desde a fabricação das ferramentas até o tratamento superficial. Apesar de não possuirmos estrutura de processamento de aço bruto, contamos com sete trefilas, ganhando flexibilidade na produção. Dispomos de 62 prensas multi-estágios de conformação a frio, 15 rebarbadoras, oito prensas verticais de conformação laminadoras, temos 34 máquinas de rosqueamento por pente, 17 de rolos e 13 de porcas, além de 16 tornos CNC para peças especiais, sete linhas contínuas de tratamento térmico e 16 máquinas de escolha. Para fabricar nossas matrizes, temos uma ferramentaria completa, com mais de 34 máquinas diversas, como eletroerosão (EDM), tornos, centro de usinagem, fresas, fornos de tempera e outras.
No controle de qualidade temos um laboratório moderno e completo, com equipamentos para checagem dimensional, como tridimensional de contato, tridimensional óptica, perfilômetro e projetor de perfil. Já para as análises metalográficas, contamos com cortadeiras, embutidoras, politrizes e microscópios ópticos. Além disso, temos durômetros e microdurômetros para checagem de dureza, uma máquina de ensaio de tração, e estamos prestes a receber uma segunda unidade, capacitada para testar até M42, possuímos uma máquina para ensaio de fadiga, onde fazemos aprovações da nossa linha de parafusos de motores, dispomos de um DTT (determinador torque-tensão) para testes de coeficiente de atrito e aperto de juntas, um espectrômetro para análise de composição química dos materiais que compramos das usinas, dois equipamentos de medição de camada por fluorescência de raio X, uma câmara de salt-spray e, por fim, um microscópio eletrônico de varredura, podendo este chegar a 1 milhão de aumentos, que utilizamos para P&D e análises dos modos de falhas, ou seja, para entender os diferentes motivos de quebra de um fixador quando aplicado.
No Senafor 2009, congresso sobre forjamento, um dos palestrantes citou o termo “fábrica fantasma”, em referência a uma produção automatizada, com as “luzes apagadas e sem operadores, geridas à distância por meio de sensores de força. O que a Hassmann planeja nesse campo, em um cenário de escassez em mão de obra na indústria?
Para alcançar esse nível de automatização você precisa de uma coisa muito importante, altíssimos volumes, realidade diferente da nossa (Hassmann) e, acredito, da maioria dos fabricantes brasileiros de fixadores. Contudo, o problema da mão de obra é uma realidade que desafia o setor, pois bons operadores levam amplo tempo para serem formados e as novas gerações tem procurado cada vez menos este tipo de trabalho. Neste cenário, estamos aos poucos modernizando a empresa em algumas tarefas onde se torna possível reduzir o número de operadores por sistemas de alimentação automático, por exemplo, como torno com alimentação por panela ou robôs, até laminadoras por rolos com alimentação de robôs.
Na área das prensas ainda é um desafio, pois uma máquina faz diversos itens dentro do mês e o setup requer o conhecimento e a mão de obra do operador para troca e ajuste das ferramentas.
Em quantas áreas a gestão se divide?
Assim como na maioria das empresas, temos grandes áreas que são as engrenagens para o bom funcionamento do sistema: Comercial, Marketing, Logística, Produção, PCP, Qualidade, RH, TI, Contabilidade e Financeiro.
E em quais delas as ações de modernização são mais urgentes?
Eu diria que todas as áreas têm oportunidades de melhorias. Hoje, estamos focados em torná-la uma fábrica inteligente, isto é, tornar os processos cada vez mais automatizados e digitais, melhorando assim nossos controles e evitando problemas de qualidade. Para isso, muitos investimentos em áreas como TI estão em plena execução.
Exemplos de tipos, e já em implantação?
Na Hassmann já trabalhamos com um sistema MES (Manufacturing Execution System), criado internamente para atender nossas necessidades, que integrado a sensores IoT (Internet of Things) e os próprios PLCs (Programmable Logic Controller) das máquinas fazem a coleta de dados automatizada do setor produtivo. Eles são responsáveis por coletar: início e fim da produção, velocidade de produção, consumo de matéria prima, paradas do processo, quantidade de peças produzidas e refugadas. Através de um protocolo de rede específico para ambientes industriais é feita a integração com nossos demais sistemas internos, incluindo o ERP (Enterprise Resource Planning).
Por sua vez, os dados coletados formam um banco de dados centralizado (Big-Data), que é explorado para a geração de informação e posterior conhecimento através da manipulação, extração, categorização e organização de dados brutos para dados estruturados. Desse modo, é extraído o OEE (Overall Equipment Effectiveness) do ambiente produtivo, bem como análises de falhas e motivos de paradas. Um painel mostrando a produção em tempo real é disponibilizado aos gestores, sendo possível saber o que acontece em cada equipamento sem precisar se deslocar fisicamente, um modelo básico de Gêmeo Digital (Digital Twin), conceito utilizado na Indústria 4.0. Esse conhecimento por sua vez é utilizado para empregar melhorias ao processo através da metodologia Lean, visando eliminar o desperdício e aumentar a eficiência. Para citar alguns exemplos, o sistema envia uma mensagem automática aos encarregados da área sempre que é detectada uma parada de máquina com tempo maior do que o previamente estipulado como padrão, acompanhado do motivo gerador dessa parada. Também ocorre o bloqueio da máquina caso seja informada para ela algum parâmetro de produção que não estava previsto, como uma ordem de produção não liberada, ou quantidade produzida acima de um percentual previsto. Isso só é possível através da integração dos Sistemas Cyber Físicos.
Ainda, utilizamos a simulação para sequenciar as novas ordens de produção geradas no ERP, utilizando dados históricos de produção para garantir uma melhor eficiência na alocação dos recursos e não causar atrasos nas datas acordadas com os clientes. Além disso, o programa é capaz de prever problemas de capacidade dos recursos antes que eles aconteçam, bem como recursos ociosos. Utilizando IA Generativa associado à simulação, o sistema começa a identificar com o passar do tempo os recursos são mais eficientes, resultando em menores custos de produção e um OEE mais elevado. Também temos estudos em andamento para utilização de RFID (Radio Frequency Identification) visando o controle de sucata gerado pelas áreas, mais um exemplo de integração Lean Manufacturing com tecnologias de Fábrica Inteligente.
Entre prensas, laminadoras de rosca, e onde mais poderão ser implementadas modernizações?
Temos iniciativas de fábrica inteligente rodando em todas as áreas produtivas da empresa, como na usinagem, no tratamento térmico e no tratamento superficial. A integração entre estes conceitos permite que decisões sejam tomadas de forma mais rápida e embasada, promovendo um ambiente mais produtivo e adaptável. A combinação dessas tecnologias conecta o mundo físico ao digital, garantindo uma resposta proativa às mudanças da demanda ou às falhas operacionais.
Fale sobre a estrutura na Hassmann internacional.
Fundada em 2019 em Tampa, Flórida (EUA) a Hassmann Fastener International (HFI), dispõe de warehouse para atender ao mercado local, destinando aos segmentos agrícola e automotivo cerca de 150 toneladas/mês. HFI opera com três funcionários em tempo integral na operação envolvendo todo o processo de recebimento dos containers vindos do Brasil, separação e preparação dos pedidos. Este estoque orbita em 500 toneladas de itens acabados para assegurar os fluxos de materiais nas linhas produtivas.
Novidade pouco conhecida, desde 2024 prestamos serviços em logística para outras empresas brasileiras que buscam vender seus produtos nos EUA. Esse nosso know-how permite ajudar tais empresas em processos de internacionalização e facilitação dos processos de logística. Hoje já são cinco empresas brasileiras que contrataram nossos serviços. Optamos por trabalhar com aquelas que fornecem para os mesmos mercados que atuamos, mas com produtos diferentes. Isto torna a operação fácil de administrar, pois normalmente com os mesmos clientes que atendemos, já conhecemos suas exigências e conseguimos atendê-los aliados às nossas demandas. E é muito gratificante ver cada vez mais produtos brasileiros mundo a fora. O Brasil tem empresas incríveis, altamente tecnológicas e que produzem com altíssima qualidade. O caminho para competitividade é o investimento em tecnologia.